#002

     Uma música para ouvir e um corpo para esquentar. Um beijo para quebrar o silêncio e um abraço como proteção.
     Ventava fortemente. Estava frio, mesmo em pleno verão. Um casal subia as escadas em direção ao ponto mais alto, o deck da quadra. Seguiam o caminho de mãos dadas, mas nada simbólico. A relação estava fria. Pareciam estar lá apenas para não magoar o próximo.
     Lá no deck, ambos tinham a visão do horizonte escuro. Um horizonte tão belo, mas que ninguém via. O que se podia ver, às vezes, eram as luzes da cidade próxima localizada por ali. Ora viam as ondas provocadas pela quebra do navio na água e as viam pelo reflexo da luz do gigante. Ora viam um navio, bem de longe, sendo iluminado. Mas, entre as poucas coisas que eram possíveis serem vistas, eles viam o que há de mais belo a noite: a Lua e as estrelas. Procuravam um Cruzeiro do Sul, uma Estrela Dalva e até mesmo uma Cadente.
     A luz no deck era baixíssima. Sentaram no meio da quadra. Ela deitou em suas pernas e fixou o olhar na Lua. Começou a falar o que sentia: como era bom estar ao seu lado, ter seu beijo, seu abraço, poder sentir seu calor, seu desejo. Sua voz ficava fraca, até que preferiu manter-se em silêncio. Ele não reagiu. Permaneceu calado.
      Ela se levantou e fixou seus olhos nos dele. Aqueles olhos escuros brilhavam. Ela fechou os seus e passou sua mão no rosto dele para sentir sua pele, poder contornar a mais bela escultura de arte.
     Tudo que ela mais queria era ficar ali, abraçada com ele, observando o horizonte e a Lua, observando e desfrutando tudo que a natureza pode oferecer-lhes. Ela queria ganhar um beijo que rompesse o silêncio, algo que demonstrasse que ele a amava. Ela não teve nada disso. Teve apenas um olhar, que, mesmo brilhando, era triste. Ela seguiu pelas escadas e se sentou nas cadeiras do deck inferior.
     Ela refletiu tudo que acabara de acontecer. Mesmo chegando na conclusão de que o amava, ela preferiu continuar. Lágrimas escorreram, mas nada podia ser feito. Ele teria que provar.